quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Soneto de quarta-feira de cinzas




Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

Vinicius de Moraes

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Armazém de ecos e achados...



PROA

"O sonho é meu pastor, nada me faltará.
Que venham as tormentas, que venha o que vier,
tenho o sonho comigo, o sonho é meu pastor.

O mundo da aparência não me engolirá.
Conheço bem suas manhas, meu ofício é interior:
girassol que é girassol tem proa pro amanhecer.

O sonho é meu pastor, nada me faltará.
Com ele eu teço o mundo, reinvento a via-láctea.
Mistérios são bem-vindos, o sonho é meu pastor.

Ou eu busco a verdade ou ela não me achará.
Minha verdade, o sonho, é pomar e é brasão.
Seu universo, os versos, fio do sim e do não.

O sonho é meu pastor, nada me faltará.
Encontro nele a luz, meu alimento e cor.
Que escorra a ampulheta, o sonho é meu pastor."

 



Edival Perrini

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Vida - idas e vindas...




                                                                                                                                                                                           
Abstenho-me da hora que me apressa
Entrego-me ao aqui para conhecer
Atraso um futuro que não me interessa:
- Vem presente me convalescer!

Do som da chuva,
conto o que escuto à vida:
A trêmula voz da despedida
canta tristeza bonita de viver...

Há satisfação em me pertencer
Em me habitar sem me permanecer
Entre risos e prantos
Desilusões e encantos
Improvisando a própria dança
Maneira particular de percorrer
estradas de inventar a própria distância

Tenho a dúvida necessária
Para que a fé se fortaleça
Amor que me encontre!
Medo que me esqueça...

Planto certezas nas terras do relativo
esses campos de contradições, tão meus....
Aos que perguntam como vivo (?)
Chegando de longe e já partindo
Eu digo: eu vivo é de Adeus!


Porque o tempo gira na roda do mundo.
e a morte e a infância
a Saudade e a esperança...
São sementes guardadas num calor profundo

Entre poentes e nascentes constantes
de recomeço incessante
(Natural se me confundo)
Mas sou grata pela vida renascente
Pulsante no topo da mente
Surreal
A cada segundo...

Em Hastinapura
Eu compreendo Arjuna
Em sua indecisão
Para alcançar a plenitude
Entre vícios e virtudes
Só mesmo a voz do coração....

A paz é a única arma e certeza
O amor, verdadeira glória e nobreza
Vencer a própria involução
A renuncia é a pronúncia
Do amor transformado,
Em jejum da paixão.


Transcorrendo o tempo
fértil em mudanças
bebi da água límpida
das mesma fontes que vós
E vi serem comuns nossas lembranças.
A alma e suas andanças
As partidas e as chegadas
Sombras fúnebres e alvoradas
(Itinerários de lágrimas mansas.)


Vejo datas e letras antigas
Imagens fantasmagóricas
Às vezes entorpecidas...
No cemitério da memória
Atravessando pontes do agora
Passado que se precipita.


Guardo os pergaminhos dos tempos idos
Minhas histórias, os versos lidos.
Alicerces que nos construíram.
Canções, livros e lendas
Velhos amores relembrados
Cartas e mapas de caminhos deixados
Entre sábias palavras que nos remiram...
E percorro as ruínas
E as altas montanhas
As colinas e as praias desertas
Antigas terras, antigas serras...
Sede de todas as direções incertas...

Nas altas capelas
Dizeres de santos e profetas
Cobertos pelo pó, que finge eternidade.
Efêmero como as paixões que subitamente
Nos invadem
Triste sina do coração que fica
É corpo que parte!


(Só o amor permanece)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O bem me quer, o mar me quer...


Quem me olha da beira jamais saberá de minha profundidade.
Sequer pode enxergar toda a superfície.
Todo julgamento é raso.
Eu nasci no fundo do mar.
Minha alma vai alcançando a calmaria ,
a calma de Maria que me faz marear...
Mar e ar...Aprendo a respirar.
O perdão é o alento que nos livra do sufoco de odiar...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Salve Rainha das Águas!!!Odoyá


Iemanjá é nossa Mãe. Assim cantam e afirmam todos os filhos de fé. Rainha do mar, no grande manancial de suas águas salgadas se revela todo o mistério do coração da Mãe Divina. Ela é Mãe de Piedade.
No livro dos mistérios dos Orixás está escrito que, no tempo da preparação do Mundo Terra para receber a humanidade na missão da purificação, Iemanjá veio ao mundo com a missão de ser pura, pois trouxe a transparência das águas que revela a claridade da luz. Porém, em meio às impurezas do mundo, ela se tornou impura também. Assim, quando retornou ao Pai da Criação para apresentar o resultado de sua experiência no Mundo Terra, pediu lhe que lhe desse o poder de purificar toda impureza. Então Ele lhe deu o Sal.Assim se firmou o fundamento dela, que está realizado no sal que representa a piedade no coração da Mãe Divina.
Mamãe Iemanjá, mãe de todas as águas representa a possibilidade de toda purificação. Toda água que corre no mundo se destina a chegar no mar. Toda lavação da impureza será entregue à força do sal purificador da Rainha.
Ela transforma com o mistério do sal e devolve À luz de Pai Oxalá, através do reflexo do brilho do sol em suas águas.
Por isso é que os filhos de fé consagram a maior beleza do mundo como o encontro do céu com o mar, no brilho do sol de Oxalá, pois esta manifestação da natureza representa o altar máximo do poder luminoso dos Orixás, que esparjem suas bençãos sobre as coroas dos filhos da Terra.

(texto de Maria Alice Campos Freire)